
Quando o Kimo chegou à clínica era o retrato preciso do cão maltratado pela vida. O dono me contou que tudo começou quando ele era filhote e foi cortar as orelhas (graças ao bom senso da humanidade esse procedimento agora é proibido). As orelhas foram cortadas sem padrão e ficaram extremamente curtas e endurecidas, o que provocava desconforto no pobre do Kimo. Depois de adulto sofreu com muitos problemas urinários, cálculos na bexiga e foi submetido a algumas cirurgias.
Olhando para aquele pit Bull de 9 anos, mal conseguindo ficar de pé, extremamente magro e cheio de erupções e inchaços na pele e nas pálpebras, eu não sabia por onde começar o exame!E ainda tinha um certo receio porque, mesmo sabendo que Pit Bull não é o vilão que pintam, não custa nada ter um pouco de precaução, né?
Kimo estava todo a vontade, muito dócil, me deixou fazer tudo que precisava e o internei. A febre era muito alta, sentia dores e a magreza extrema me preocupava. Era uma vítima da vida, dos tratamentos prolongados com medicamentos para combater a erliquiose, a anemia e os problemas de pele. E de muitos procedimentos anestésicos e cirúrgicos sem acompanhamento posterior. O que eu tinha em minhas mãos agora era um cão muito velho, com insuficiência renal e hepática. E uma erliquiose crônica, resistente ao tratamento.
Kimo ficou internado 15 dias, me afeiçoei a ele e conversava com ele regularmente. O quadro agravava-se dia após dia e tudo que podia ser tentado, estava sendo. No seu penúltimo dia de vida, antes de iniciar a diálise, ele me olhou nos olhos de um jeito tão profundo que sentei no colchonete ao seu lado, abracei seu pescoço e chorei como se essa fosse a primeira despedida da minha vida. Fiz um monte de recomendações a ele e pedi que desse alguns recados para os meus cães que já foram pro canil do céu. O Pretinho, especialmente. E prometi ao Kimo que não o deixaria sentir dor. No dia seguinte, após a diálise, eu já tinha certeza que seria o último dia dele. Fiz tudo que podia para que ele ficasse sem dor e tranqüilo. Gostaria de ter segurado sua pata imensa e magra até o seu último suspiro, mas era hora de revesar os cuidados com o Dr. Leandro, meu marido e veterinário preferido. Fiz uma dose extra de analgésicos e, na manhã seguinte, o Leandro me avisou que o Kimo havia partido, pouco depois que o deixei. A última cena que tenho em minha mente é aquele olhar, aquela pata enorme, e o meu sentimento de total impotência diante da morte que chega, muito mais forte que eu.
Kimo teve muita sorte em ter seus últimos suspiros num lugar tranquilo cheio de cuidados.
ResponderExcluirBeijos
infelizmente essa historia é tao triste ='(
ResponderExcluirfaz chorar qualquer um
tenho uma cadela pittbull de um ano e 4meses eu um dia se a perdesse matava me foi a melhor coisa que ja me aconteceu, e a melhor amiga que alguem pode ter, brincalhona, meiga e muito ciumenta nao gosta que ninguem esteja comigo mas para crianças e defecientes ela é um espectaculo.
claudiacosta_61@hotmail.com
Impressionante essa história!! Tive um cachorro que também era um vencedor, sofreu muito durante o início de sua vida em virtude de um tombo. Mas melhorou e teve uma vida longa e feliz. Quando estava velhinho, em seu último dia de vida, ele estava bem mal, e eu me lembro de ir à sua caminha, como fazia todas as noites, conversar com ele e dizer que ele era especial e rezar para que ele melhorasse. E, naquele dia, ele me deu um olhar desse tipo que você descreveu... Não esqueço dele nunca! Estou adorando o seu blog!! Beijos!
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