domingo, 17 de janeiro de 2010

Pedigrees fraudados


Um fato que está virando rotina, principalmente aqui em Uberlândia, é a fraude de pedigrees dos animais, especialmente dos cães. O pedigree é um documento que atesta e garante que um animal é de determinada raça. No pedigree vem discriminada toda a árvore genealógica do animal: pais, avós, bisavós, títulos (se algum tiver sido campeão em exposições), linha de sangue e nome do criador. Por esse documento o comprador pode pesquisar o passado do animal e avaliar se ele está de acordo com as suas expectativas no que diz respeito a pureza da raça, temperamento e problemas físicos hereditários (como a displasia em rotweiller e pastor alemão, por exemplo).
Muita gente que vende animais em pet shop diz que o preço alto é por causa do pedigree; isso leva o comprador a achar, erroneamente, que o documento é caro. Na verdade, para o criador ter o pedigree da ninhada, os pais tem que ter pedigree e o canil tem de ser registrado. Quando nasce a ninhada, o dono da FÊMEA preenche um documento (o mapa de registro da ninhada) com as características dos filhotes, nomes dos pais, dados e assinatura dos proprietários dos pais. Esse mapa é entregue no Kennel clube, que envia para a CBKC, onde será emitido o pedigree de cada filhote. Cada pedigree custa entre R$20,00 e R$ 50,00, dependendo do Estado. Ou seja, o valor mais alto de um filhote com pedigree é por causa da certeza de sua procedência, pureza e tudo mais que falei em cima, não do documento em si. Mas, infelizmente, o que alguns “criadores”, donos de pet shop e, mais infelizmente ainda, veterinários fazem, para obter cada vez mais lucro fácil, é fraudar pedigrees. No trâmite do preenchimento do mapa, precisa ter a assinatura do veterinário, que obviamente tem que ter conhecimento de todo o procedimento e da ninhada para atestar a veracidade do mapa. O Kennel deveria conferir a ninhada quando recebe o mapa, mas isso eu nunca vi acontecendo na prática. Isso se torna uma brecha, tanto que uma forma comum de se fraudar pedigree é quando há duas ou mais fêmeas, uma com pedigree e outra sem: as duas parem na mesma época e os fraudadores registram as ninhadas como sendo de uma cadela só. Outra forma é quando há uma ninhada grande, o pedigree é solicitado e algum dos filhotes morre. Os fraudadores arranjam outro filhote, muitas vezes até sem ser de raça pura, e vendem com o pedigree do que morreu: eis aí como muitos vira-latas legítimos possuem pedigree!
Eu sei que quem gosta de animais não liga pra pedigree, nem pra raça pura. Mas o que estou falando é de fraude que, nesse caso, chega ao ponto de ser classificada como estelionato e é crime. É também falta de respeito com os consumidores, clientes e um grande problema para quem trabalha de maneira séria e honesta.

Algumas dicas para não comprarem gato por lebre:
- Peça sempre referência do pet shop onde você vai comprar. Se possível, vá conhecer o lugar onde os cães são criados e onde ficam alojados. E só compre se esses animais que ficam à venda forem tratados com respeito e dignidade, sem ficar em gaiolas minúsculas o tempo inteiro, privados de carinho, brincadeiras, espaço, comida e água.
- Desconfie de lojas em que o fluxo de filhotes é muito intenso, como lojas de shopping, hipermercados e “feiras” de filhotes (principalmente as itinerantes). Passe algumas vezes na semana e repare se sempre tem muitos filhotes da mesma raça, idade e todos com pedigree do mesmo criador. Haja cadelas parindo ao mesmo tempo pra tanta ninhada de mesma idade, não é mesmo?
- Seja cauteloso se o dono do pet shop também for criador de alguma raça que ele venda.
- Dê preferência para animais microchipados.
- Avalie a saúde e o bem-estar proporcionados aos animais que estão a venda. Não apóie pilantras que exploram a vida dos animais. Existem criadores e pet shops sérios e idôneos (raridade nas duas categorias) que se preocupam com a ética, o bem-estar e saúde física e emocional dos filhotes. Se sua opção é comprar um animal de raça, procure bem, avalie e não compre por impulso.


E se você achar que foi vítima da fraude dos pedigrees,como nesse relato
http://www.rotdornweg.com/hpw1/reportagem.htm corra atrás. Denuncie, processe, exija o exame de DNA. É um direito de todos, e só assim vamos conseguir acabar com esse “mercado” nojento de exploração dos animais.

Para ler mais: http://www.salatino.com.br/pt/centro-cinofilo/posse-responsavel/


Quem é contra picareta e ama seu pet levanta a mão e grita EU!



Obs.: Agradeço o carinho e preocupação que tantas pessoas tiveram com o Duque. Infelizmente ele foi para o canil do céu na terça-feira passada, apesar de todos os esforços. O que me conforta um pouco é que consegui mante-lo sedado e ele se foi calmamente, sem sofrimento, dor nem desconforto. Liguei para seu dono para avisar, ele pediu para busca-lo. Levou o Duque e enterrou-o no quintal da sua casa. Duque, enfim, teve uma morte e enterro dignos do amor que sempre devotou a sua família.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Eutanásia: sim ou não?

Duque - 3 anos

Estou com um paciente internado há 5 dias, um rottweiller de 3 anos de idade.Ele tem insuficiência renal crônica e todas as conseqüências disso. Os dados dos exames não são animadores, ele já passou por uma transfusão de sangue, não quer se alimentar e está deprimido. Ontem consegui que o dono, um senhor muito educado e simpático, finalmente fizesse uma ultrassonografia. “O último exame que vamos fazer pra ver se ele ainda tem alguma chance”, disse ele. As imagens não foram nada animadoras: rins hipotrofiados, destruídos. As chances desse cão, o Duque, sobreviver sem internamento até passar a crise urêmica, se passar, são pequenas. O maior problema na insuficiência renal é que a uréia, composto que tem de ser eliminado pelos rins, começa a se acumular no organismo e provoca náuseas, vômito, úlceras no trato gastrointestinal, diarréia e afeta vários órgãos (especialmente o fígado). Trocando em miúdos, ela intoxica o animal lentamente. Num caso crônico como esse, o animal se adapta a um limiar alto de uréia, mas a medida que isso vai piorando, ele precisa de um novo suporte (medicamentos, alimentação adequada, reposição hídrica endovenosa) e tem que ficar internado. Infelizmente, aqui em Uberlândia, não temos clínicas de hemodiálise para cães. Até conseguimos quebrar um galho fazendo diálise peritoneal, mas não é suficiente, é só um paliativo para continuar lutando pela vida.
Hoje falei com todas as letras o que o dono do Duque não queria ouvir: “ele não tem chances de ficar bem se for para casa agora. Ele precisa da diálise peritoneal e precisa continuar internado por tempo indeterminado, até a uréia baixar, até voltar a comer, até os vômitos estarem bem controlados. Se isso acontecer.”. E ele me respondeu o que eu tinha certeza que ia ouvir e não queria: “então vamos sacrifica-lo, não quero que nem ele e nem a gente sofra mais”. Eu, instintivamente, respondi: “então a internação dele termina hoje. Mas o senhor o deixa aqui que eu ainda vou tentar, mas de agora em diante a responsabilidade é minha". Como se a dona dele fosse eu! Ele foi embora desolado, com os olhos rasos de lágrimas; sei que fez essa opção porque, no pensamento e concepção de vida dele, é assim que vai aliviar o sofrimento do seu cão. E foi a primeira vez que não tive vontade de xingar alguém que me falasse em sacrificar um animal.
Só que a minha missão é lutar pela vida, dando dignidade e bem estar aos meus pacientes. É amenizar o sofrimento quando não é possível acabar para sempre com ele. É, sobretudo, cuidar do meu paciente com amor, atenção e respeito até o último dia da vida dele. E eu não tenho o direito de encurtar essa vida, de interferir assim no destino, de apressar as coisas. Assim como não tenho o direito de prolongar qualquer sofrimento e de brincar de ser Deus ou o diabo. Eu nunca eutanasiei um animal e o meu maior sofrimento é quando não consigo tirar toda a dor do animal e vejo que ele morreu com algum mal estar. Só que o que o dono entende como "sofrimento" do animal, na maioria das vezes, é o sofrimento dele próprio. O sofrimento de não poder fazer muita coisa, o sofrimento financeiro, o sofrimento de ter de arranjar tempo para cuidar de um moribundo, o sofrimento de ter de abrir mão de muitas coisas para si para conseguir cuidar do seu animal de estimação.
O animal sente por estar longe da sua casa, do seu dono, mas o mais impressionante é como ele sabe reconhecer que está sendo cuidado, mesmo que por estranhos. O Duque chegou aqui de focinheira, eu recebi mil avisos para ter cuidado que ele era muito bravo. No dia seguinte o dono dele chegou e tomou um susto quando me viu abrir a gaiola de internação, fazer carinho nele, trocar o soro, dar água, coloca-lo de pé, e ele nem ao menos fazer cara de que ia me devorar. E estava sem focinheira.
Como sacrificar um animal assim? Como acabar com a vida de um bichinho que só precisa de mais um tempo de cuidados e carinho? Eu sei o final desse filme. Infelizmente, já o vi muitas vezes, inclusive com um dos meus cães. Sei que o tempo de vida do Duque é curto e cheio de altos e baixos. Sei que talvez ele não reaja nada à diálise que vou fazer na segunda-feira. Mas, e aí, por achar que o final pode ser a morte, inevitável para todos nós, eu tenho que procurar uma foice e fazer o papel da dita cuja? Não mesmo! Duque morrerá com nobreza, no tempo que a sua natureza determinar.

Agora olhe você pra essa carinha aí na foto e me diga: como sacrificar olhos assim, embora tristes, tão cheios de vida?
Quem ama seu pet, levanta a mão e grita: EU!
:o)

domingo, 3 de janeiro de 2010

Um pulinho em 2009

Foto: Max Billder

2009 foi um ano maravilhoso, mas começou cheio de incertezas: minha filha recém nascida na UTI, a vontade de curtir todos os meses de licença maternidade com ela, o medo de deixar meus pacientes e clientes “desamparados”, a ansiedade em saber como seria a vida de mãe e de veterinária, se eu conseguiria conciliar, se daria tudo certo.
Logo que a Alice saiu do hospital (e aqui vale lembrar que eu tive síndrome Hellp, por isso ela nasceu prematura, e fiquei 05 dias internada muito mal também) eu já vi que não seria fácil ficar longe dela mas, por uma séria de dificuldades que estávamos enfrentando na clínica, tive que voltar a trabalhar assim que ela completou 02 meses de vida. Foi meu grande baque em 2009. Voltei a trabalhar aos poucos, indo algumas horas por dia, porque ainda estava fraca e fragilizada demais para encarar as mais de 8 horas diárias de trabalho comuns na minha vida. Ficar longe da minha filhota doía, mas o prazer do meu trabalho e de ajudar meus pacientes amenizava um pouco essa dor. Fora todas as neuras de mãe de primeira viagem, eu ainda tinha quilos a perder, uma anemia pra me livrar e precisava me acostumar a doce rotina de não dormir uma noite inteira e de sair correndo da clínica a cada 2 horas para amamentar e curtir um pouco minha filha. Nunca cheguei a pensar que eu não conseguiria. Fazia tudo com tanto amor e com tanta gratidão pela oportunidade que eu estava tendo de começar um ano com minha filha nos braços e uma clínica com um potencial enorme pra ser um sucesso, que tudo me parecia bom demais pra eu reclamar de algum cansaço.
Pela primeira vez na vida eu usei corretivo de olheiras e maquiagem logo de manhã. Achava injusto aparecer de cara amarrotada e olheiras profundas para atender meus clientes, que não tinham nada a ver com a vida de maratona que eu escolhi pra mim.
Aos poucos fui me adaptando, as coisas foram melhorando, os clientes compreendendo que às vezes eu chegava atrasada, outras vezes precisava cancelar um horário... enfim, vivi a maternidade de uma forma diferente da que eu queria, mas nem por isso deixou de ser plena. E a clínica, minha segunda casa, brilhou mais do que nunca. Surgiram muitos convites para entrevistas no Jornal correio, na coluna da querida Valeriana Medrado, e um artigo na revista Cult. E entrevistas na TV também. Fosse no canal 15 (canal a cabo daqui da região) ou na TV integração (rede globo regional ), eu ia sempre feliz da vida, pra falar de tantas coisas legais para os animais e mostrar um pouco do trabalho pioneiro, inovador e diferente da Bichos e Caprichos. Rolou até entrevista no MGTV e na Ana Maria Braga! Enfim, fui convidada do Gente Cult algumas vezes, do Bem viver, do Momento Empresarial, do De tudo um pouco (Lu, valeu demais pelo convite!), do É o Bicho... e eu, que morria de vergonha de câmeras, comecei a gostar “bem muito” delas!
No meio do ano, uma grata surpresa: a Bichos e Caprichos abriu uma filial. Um momento completamente inesperado, dessas coisas que acontecem sem a gente planejar nada. Mas eu não sou boba de perder boas oportunidades, ainda mais quando elas batem na porta!
Com isso tudo, o que mais me preocupa, profissionalmente, é nunca perder a qualidade e respeito com que trato meus pacientes e seus donos. Não me interessa se tenho duas clínicas, se volta e meia apareço na TV, nas revistas e jornais. Escolhi minha profissão por amor e é esse mesmo amor que me move rumo aos meus projetos e metas. Costumo dizer que eu não tenho concorrentes. E não falo isso por arrogância, falo porque a única pessoa que pode me sabotar sou eu mesma. Porque a única pessoa que tenho que superar todos os dias sou eu. Cada um tem seu lugar especial, trabalha de uma maneira única e especial também. A minha é a minha e é com ela que me preocupo. É ela que tento lapidar e melhorar todos os dias. Por mim mesma e por meus pacientes queridos.
Terminei 2009 com um gostinho bom de “trabalho cumprido”, embora exausta. E finco o pé em 2010 com mais gás do que nunca. Outra especialização me aguarda, a continuidade da reforma na nova loja continua e muitas, muitas surpresas legais estão por vir para nossos clientes e amigos. E começam em fevereiro, hein?
Na virada do ano agradeci muitíssimo a Deus pela vida que tenho e pedi somente que continue guiando meus passos rumo a um caminho de evolução (pessoal e profissional – isso não se separa, né?). Que eu consiga sempre perceber essa felicidade do caminho e, naquelas horas bem difíceis que inevitavelmente aparecem, que eu não perca a fé.
Desejo um 2010 maravilhoso para todos que amam os animais, a natureza e têm a consciência de que somos apenas uma pequena parte disso tudo. Muito amor, autoconhecimento, saúde, fé, paz e evolução para todos nós!

(Com gotinhas de lavanda no pulso) Quem ama seu pet levanta a mão e grita: FELIZ ANO NOVOOOOOOOOOOOOOOO!